Cusco - 4
Vale Sagrado - parte 2
13.11.2017 - 13.11.2017
15 °C
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2017 Peru
no mapa de viagens de Akemi Nomura.
Boooommmm diaaaaa!!!! Precisa falar que foi mais um dia acordando de madrugada? A vantagem vai ser voltar pro Brasil já no fuso, rs. Bora levantar, tomar café e ajeitar aa coisas porque hoje é dia de levantar acampamento por uma noite. As coisas já estavam meio encaminhadas e como acordamos cedo fomos tomar café cedo. Aqui o café da manhã é das 5h às 9h da manhã. Depois foi só fechar as coisas e sair pro check out. Deixamos as malas no hotel. Aqui os hotéis estão preparados pra isso uma vez que as pessoas vão pra Aguas Calientes e, em sua maioria, voltam a Cusco para pegar o voo pra ir embora. Os trens também não são preparados pra levar muitas malas. Enfim, mochila nas costas, documentos na bolsa, partiu fechar o Vale Sagrado.
Hoje quem veio nos buscar foi a Azuzena. Mas nosso guia ia ser o Jesus, irmão dela. O trânsito no centro de Cusco estava bem ruim por conta das escolas. Quando conseguimos sair pegamos estrada em direção a Chinchero que fica a 28km do hotel. A primeira observação da Azuzena ao chegar lá era das roupas das mulheres. Saias pretas, casacos vermelhos e chapéus pretos. Quando os chapéus tinham flores brancas significava que a mulher era solteira. E as tranças nos cabelos eram a referência de beleza.
Chinchero é o local onde o Inca Túpac Yupanqui (filho e sucessor de Pachacute) escolheu para construir seu palácio. Essa aldeia foi mais uma devastada pelos espanhóis no período da colonização. Na feira que acontece aos domingos muitas transações são feitas na base de trocas como na época dos incas. A missa ali é feita em Quechua, dialeto dos Incas. Vai vir a Chinchero se prepare pra subida. Estamos a 3700m de altitude e basta subir alguns degraus pra sentir a falta de ar. Uma observação que Jesus fez foi que o povo andino era baixo e com tórax largo pois os pulmões eram maiores, ou seja, evolução da espécie. E fomos subindo e parando até chegar na praça onde as mulheres vendiam “artesanato”. Não tinha muita gente ainda porque as excursões saem mais tarde.
Nas paredes das casas podemos ver na sua fundação as bases da arquitetura inca. Subimos mais escadas e chegamos na igreja. As pinturas tinham as características da escola cusquenha. Os quadros feitos pelos indígenas que construíram a cidade tinham sinais da cultura inca. No altar não podia faltar o ouro.
A vista das montanhas era sensacional. Chinchero proporcionava uma eterna vigilância do Vale Sagrado. Os vários terraços de agricultura não eram diferente dos demais que tínhamos visto. Ao longe pudemos avistar outros terraços já encobertos pela natureza restando apenas algumas “linhas” nas montanhas indicando onde eles ficavam. Por um lado é uma pena ver essa parte da história desaparecer. Por outro é interessante ver a força da natureza agindo. Fico imaginando a quantidade de história que as montanhas ainda escondem.
Chinchero é o centro de tecelagem de Cusco. Aqui existem alguns ateliês onde as mulheres demonstram como produzem seus trabalhos desde o início. Um showzinho pra turistas, é verdade. Mas o trabalho é real. Ela mostrou o processo de lavagem das lãs usando uma raiz que ralada vira uma espécie de sabão. E fez na nossa frente o que ela chamou de magia da natureza. Também mostrou como extraíam de várias folhas, raízes e sementes as cores que tingiam as lãs. Mostraram como faziam os fios de lã e, claro, como produziam as peças manualmente. Por fim nos mostravam seus produtos à venda. Sim, dava pra ver a diferença dos produtos dali para os produtos à venda nas feirinhas. Uma dica, se não for comprar nada, deixe uma gorjeta pela aula de artesanato. Não foi meu caso pois eu comprei pashminas, hehe.
As mulheres tecelãs criavam porquinho da índia para consumo, o famoso cuy. Tão fofinhos... não ia conseguir comer...
Como a ida foi subida, a volta foi o paraíso, hahaha. Era hora de ir pra estrada de novo. Mais 28km de estrada, sendo boa parte de terra, e estávamos em Moray. Tinha um pouquinho de emoção pra chegar lá porque a estrada era estreita e uma grande ribanceira do lado. Em Moray já chegamos na parte de cima dos terraços. O ponto mais importante de Moray são seus três terraços circulares que até hoje arqueólogos divergem sobre sua finalidade. Umas das teorias era de que essas ruínas eram um grande anfiteatro. Mas o mais provável é que representava um local para agricultura. Sinais como os pontos de irrigação ajudaram a comprovar isso. Existe uma teria de que cada nível tinha um clima diferente provocada pela profundidade do local e a forma que o sol e o vento atingiam cada andar. A diferença entre o ponto mais baixo e mais alto chegava a 15 graus o que permitia plantar vários tipos de alimento. Moray foi uma espécie de laboratório de produção agrícola Inca. Ah, ainda tem a galera alternativa que vem fazer homenagens à Pacha Mama uma vez que os Incas consideravam Moray o umbigo do mundo.
Mais 15km por estrada de terra e chegamos às salineras de Maras. Alguns dizem que ali tem 3 mil piscinas, outros dizem 5 mil, os guias então fixam em 4 mil salinas com mais de 2 mil anos de existência onde famílias ainda tiram seu sustento utilizando técnicas antigas. A água salgada vem das montanhas e escorre por valetas num sistema que abastece cada uma dessas salinas. Para se ter uma ideia a vazão para enchimento das piscinas é feita com uma pedra. Depois é só esperar a água evaporar e extrair o sal. Essas águas vêm do degelo dos picos mas quando entram nos canais subterrâneos da montanha carregam os sais ali presentes. Isso se explica porque naquela região no período pré histórico era mar. A água que desce das montanhas é quente e bem salgada (experimentamos). As piscinas estavam escuras por conta das chuvas. Depois de colhido o sal ele é ensacado e colocado em armazéns para tirar a umidade e depois é iodado pro consumo. Claro que no final tinham lojinhas vendendo os vários tipos de sal e produtos afins. E claro que nós compramos. Só esquecemos que estávamos indo pra Machu Picchu de mochila e teríamos que carregar, haha.
Estrada de novo... Mais 35km entre subidas em estrada de terra estreita, ovelhas atravessando a estrada e voltamos pra estrada asfaltada. Passamos por um hotel que eu JAMAIS me hospedaria. Parecem capsulas de vidro presas nas paredes da montanha. Pra chegar lá? É só escalar!!! Gezuis amado, e tem gente que paga pra isso, haha. Eu teria que ser muito bem paga.
Enfim, chegamos a Ollantaytambo. Simpático o lugar. Tinha uma ruazinha inca original ainda. Uma rua cheia de lojinhas e restaurantes. A praça muito fofa. Aquela explosão de cores dos produtos vendidos no local. Um charme, gostei. O complexo de ruínas aqui é muito grande. Vão desde grandes sistemas de irrigação a templos e áreas de observação astronômica. Ali também era propriedade do Imperador Pachacuti que construiu um complexo militar, administrativo, religioso e agrícola.
Aí chegamos numa praça onde vi as ruínas e pessoas subindo uma escadaria enooooorme. Meio que não achava que a gente ia subir aquilo. Além de serem degraus extremamente irregulares, a falta de oxigênio tornava tudo muito mais difícil. Mas a gente ia subir sim e não precisou muito pra cansar. Mas fomos, sobe um pouquinho, para um pouquinho, Jesus ia nos explicando algumas coisas. Na montanha da frente enxergávamos alguns armazéns beeeeem altos. Os alimentos produzidos eram ali estocados. Mano do céu, eu só conseguia me perguntar como eles conseguiam. Do lado de um dos armazéns havia uma formação rochosa que parecia com um rosto.
Continuando a subida tinha hora que eu via umas pessoas passando que meio que me desafiavam, tipo, se elas conseguem eu tenho que conseguir, hehe. Mas acho que meu desafio maior era o medo de altura. Essa parte foi tensa! Mais uma parada e Jesus nos explicou que Ollantay, como é chamada a cidade, tinha o formato do milho. Era meio difícil imaginar. Num primeiro momento eu acreditei mas não vi milho nenhum. Depois ele mostrou uma imagem em um livro que ficou mais fácil entender. E vamos subindo até chegar na parte dos templos. A arquitetura sofisticada indicavam isso. Pedras mais lisas e melhor acabadas contrastavam com a irregularidade da parte militar. Subimos pela parte de trás e chegamos no templo do Deus Sol onde pessoas alternativas meditavam. Pedras enormes pesando toneladas que vinha de uma montanha a 30km dali. E eu reclamando das compras que eu tinha que carregar, hehe.
Agora gente, e a vista do Vale? O que que era aquilo. Pensava naquele avião do time de rugby que caiu nos Andes chilenos e como aqueles dois moleques conseguiram atravessar aquelas montanhas daquele tamanho só que com neve. Onde estávamos não nevava mas nos picos a 5000m de altura tinha neve. O que tornava a vista mais exuberante contrastando com o verde das montanhas.
Continuamos até a parte mais alta onde tinha a parte militar. Nem acreditei que tínhamos chegado no alto. A vista da cidade era sensacional. E o desafio de chegar lá tornava mais sensacional ainda. Ah, claro, a energia do lugar era indescritível. Jesus nos explicou que os postos de controle no alto da montanha e no vale se comunicavam com sinais, por exemplo, metais que brilham no sol.
Aí veio mais um desafio, só que pra mim. Seguir por uma trilha na parte alta da montanha sendo que alguns trechos eram extremamente estreitos (e bem na parte mais alta). Jesus ainda brincou que se caísse seria um sacrifício pro Deus Sol, haha. Idiooooota!!!!! Hahahaha... Bom, apertei o fo**-** e fui. Fui me agarrando nas pedras mas fui. Não tive muito tempo pra decidir porque começava a pingar umas gotinhas e a chuva ia tornar esse caminho perigoso. Mas só soube disso depois, haha. Na parte mais tensa tinham uns homens trabalhando e ver pessoas nesses lugares aumenta minha fobia. Eu andava olhando o chão ou os muros, mas nunca pra beira da ribanceira. Depois a trilha ficou mais larga e eu fiquei mais calma, haha. Mas foi tenso!!!!
Do outro lado tinham terraços agrícolas e uma parte da cidade destruída. A descida foi chata porque os degraus eram muito irregulares. Não só pela altura mas pelas pedras também. Pra pisar de mal jeito eram dois palitos. Mas chegamos na parte baixa. Fomos no templo da água onde tinha uma janela ao fundo. Na montanha da frente víamos um perfil de uma pessoa. Um determinado dia do ano (acho que 21 de junho) o sol batia na montanha e para os incas a vista daquela janela significava a junção dos quatro elementos da natureza: o sol era o fogo, a água do templo, a sombra da pedra produzida pelo ar e a terra dentro do templo.
Acabamos nossa visita no Vale Sagrado. Ollantaytambo deve ficar pro final mesmo porque até agora foi o templo mais grandioso que visitamos. Agora só nos resta Machu Picchu. Azuzena e Jesus nos orientaram para o trem de ida a Águas Calientes e para volta pra Cusco. Já deixaram fechado um guia pra Machu Picchu e nos deixaram na praça pra almoçar. A comida aqui foi fraquinha mas estava gostoso ficar na janela tendo a vista da praça.
Depois fomos andando até a estação. Troquei o voucher pelo bilhete de trem e fomos pra plataforma. Escolhi ir pela Inca Rail pra poder ficar 1h mais tranquila e porque foi mais fácil e menos caro combinar a volta indo até Poroy. A passagem não é nada barata. Foi cerca de US$150 ida e volta por pessoa. O trem é confortável e oferece um snack e uma bebida. O trem balança demais e é ruim pra dormir. Por outro lado não se perde detalhes da viagem e das montanhas espetaculares das cordilheiras.
Chegamos em Aguas Calientes às 18h. Aguas Calientes é o povoado de onde partem os ônibus para Machu Picchu. É um local mais “roots”. Mesmo quem não vai dormir aqui tem que passar por aqui para ir pra Machu Picchu. Ou seja, desapega. O local também é conhecido como Machu Picchu Pueblo e vive basicamente em torno do turismo. O local nasceu como um ponto de parada dos andarilhos que buscavam alcançar Machu Picchu e precisavam descansar antes de terminar a jornada. O que tem para fazer? Nada! É apenas para dormir e pegar o ônibus bem cedinho no dia seguinte para Machu Picchu. Mas achei bem estruturado. Na verdade me surpreendeu. Vários restaurantes bonitinhos, lojinhas, mercadinhos, feirinha.
Tem hotel pra todos os gostos. Por uma noite eu precisava apenas de um pouquinho de conforto por um bom preço. Escolhi o hotel Andino. E gostei viu? Simples, confortável, fácil acesso... valeu. Fomos no mercadinho ao lado comprar um queijinho pra comer com o pão e esperar o guia pra combinar as coisas. Definimos não sair muito cedo. Essa época é baixa temporada e está mais tranquilo. Hora de descansar! A seguir as flores do dia...
Publicado por Akemi Nomura 18:55 Arquivado em Peru