Berlim - dia 05
27 04 2011
23.04.2011 - 28.04.2011
21 °C
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2011 Europa
no mapa de viagens de Akemi Nomura.
O plano hoje era não ter plano nenhum. Saímos meio sem rumo. A idéia inicial era passar na loja do museu de História Alemã e depois procurar o city tour para o campo de concentração próximo à Berlim. Seguimos a dica de uma brasileira que encontramos ontem no Checkpoint Charlie. Às 10h30 estávamos na frente do Starbucks da Pariser Platz. Isso depois de uma caminhada por toda Unter den Linden a partir da Berliner Dom.
Bom, chegamos novamente ao Portão de Brandemburgo. Claro que não ia perder a chance de tirar a foto que eu tinha perdido do segundo dia. Aproveitei e bati com umas 3 máquinas diferentes só pra garantir. Depois, fomos em busca do grupo de guias de free tour por Berlim. Lá tinham alguns grupos que iam para outros destinos fora da cidade. A opção foi Sachsenhausen. E o guia foi o espanhol Jorge.
Fica a dica, a idéia desse tours que saem da Pariser Platz é caminhar ou usar transporte público. Porém para ir para o Campo de Concentração exigiu uma boa caminhada. Então esteja pronto porque a caminhada dentro do campo é grande também. E o ritmo do guia é bem alucinado.
SACHSENHAUSEN
Não deixe de comprar o bilhete para transporte público das zonas A, B e C. Pegamos o trem no Brandemburger Tor e percorremos cinco estações. De lá, pegamos um trem regional até a estação de Oraniemburg. De lá, saindo da estação à direita, caminhamos até chegar a uma ponte. Ali, viramos à direita passando por baixo da ponte e, na esquina de um supermercado chamado Netto, viramos à esquerda. Dali, mais uma caminhada até achar a placa do Campo de Concentração. No ritmo de Jorge foram uns 15 minutos, em um ritmo, digamos, normal, são de 30 a 40 minutos.
A entrada no campo é gratuita. Logo no começo você pode comprar um mapa e/ou alugar um áudio guide. Daí, é só caminhar de novo. Nesse roteiro eu recomendo fortemente alugar um áudio guide ou ir com guia de turismo (por mais que eu os odeie do fundo do meu coração). Mas acho que as histórias contadas pelos guias são complementação importantíssima para a visita a ser feita. Daquelas histórias você imagina o que aquelas pessoas passaram e, não tem como não sair, no mínimo, refletindo sobre o comportamento do ser humano.
Acho que visitar um campo de concentração foi um dos roteiros mais fortes que fiz em todas as minhas viagens. Eu saí de lá com o mesmo “why” na cabeça que vi pichado no Muro de Berlim. Por que o ser humano chegou a esse ponto? As histórias são de embrulhar o estômago.
Passando o portão de entrada A, por onde chegavam os prisioneiros, me deparo com a famosa frase “O trabalho liberta”. É como um tapa na cara, e daqueles bem fortes, pra acordar pra realidade que estava por vir. Vale lembrar que Sachsenhausen era um campo de concentração, e não um campo de extermínio. A intenção ali era explorar a força de trabalho ao extremo. Porém acabava sendo uma forma de extermínio por outras vias.
Os barracões ficavam em um semi círculo, de forma que a torre A tivesse a visão de todos e os prisioneiros tivessem sempre a sensação de estarem sendo observados. Ali, o inverno chegava a -22 °C, e os verões eram extremamente quentes. A rotina ali começava às 4h15. Em um barracão em que dormiam cerca de 400 pessoas, eles tinham 45 minutos para se levantarem, se banharem, comerem algo, irem ao banheiro e, por fim, se apresentarem no pátio às 5h da manhã em ponto, todos os dias, para contagem. Se a contagem não batesse, ninguém saía do pátio enquanto os soldados da SS iam aos barracões procurar cadáveres, que claro, eram retirados pelos outros presos.
Em fotos de propaganda, é possível ver uma apresentação no pátio para contagem com prisioneiros enfileirados usando roupas de frio. Claro que esse cuidado todo era apenas nas fotos de propaganda. O dia a dia no campo era bem diferente.
Todo barracão tinha o capo. O prisioneiro “dedo-duro” que dormia em uma cama separada e tinha certos privilégios. Mas pagava o preço da consciência por delatar os demais. Sobreviventes contaram que enquanto estavam amontoados nos barracões, estavam felizes, pois estavam juntos. O temor maior é quando alguns eram retirados para o isolamento, pois daí ninguém sabia o que iria acontecer com eles. A reação para demonstrar, acima de tudo, força moral, era cantar durante a noite. Assim eles eram fortes.
O isolamento de presos políticos era com escuridão total. Sendo a pior delas o isolamento feito por baixo da terra, onde o prisioneiro descia por corda e ali era praticamente enterrado vivo, com a abertura por onde desceu se fechando por cima, ficando apenas uma tela de arame a mais de 3m de altura, para passar ar.
No museu dos barracões, a pior parte. As formas de tortura e humilhações expostas com instrumentos usados na época. Algumas fotos mais marcantes e as histórias dos sobreviventes estampadas nas paredes.
As histórias que envolvem torturas, humilhações e extermínio em massa não valem ser descritas. Não faz bem pra ninguém. Parece que a gente sente um pouquinho do que se passou por lá. Um pouquinho mesmo. Um quase nada perto do que realmente foi aquilo. E esse pouquinho é um misto de emoções indescritíveis. Não tem livro ou filme que transmita essa sensação. Mas a história está lá, a ferida está aberta, pra quem quiser ir ver...
Publicado por Akemi Nomura 15:19 Arquivado em Alemanha Tagged sachsenhausen