Uyuni
Parque Eduardo Avaroa
21.10.2019 - 21.10.2019
10 °C
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2019 Atacama e Uyuni
no mapa de viagens de Akemi Nomura.
Pra variar acordei antes das 5h. Mas de boa com isso. Levantei, tomei uma ducha num frio de rachar, deixei tudo pronto e deitei para esperar as meninas acordarem. Comecei a arrumar a mesa do café devagar e mamãe estava trocando de roupa. Assim que elas acordaram, começaram a se arrumar e tomamos café ali no quarto.
Às 8h a van veio nos buscar. Éramos só nós quatro. O motorista explicou que ia nos levar até a fronteira e lá íamos trocar de carro. Na Bolívia só é permitido guia boliviano a acho que agência boliviana. Chegamos no controle de fronteira do lado chileno. O dia estava muito bonito. O pano de fundk na janela era o Licancabur. Levamos 1h parados ali pra carimbar a saída no passaporte. Ali eu senti um pouco de falta de ar. Na imigração Rosana perguntou pro funcionário ali que disse que estávamos a 4600! 4600! Novo recorde de altitude. Uma ida ao banheiro ali me sugou um absurdo de energia. Voltei pro carro bufando. Mas aqui não é uma questão de soroche e sim de ar rarefeito mesmo. Cansa muito qualquer esforço.
Quando chegamos logo antes da entrada do lado boliviano nós descemos da van e fomos pro carro que nos aguardava. Eram vários carros ali, todo mundo saindo da van do lado chileno e indo para os 4x4 da Bolívia. A nossa guia nos aguardava com os papéis de imigração. Fazia muito frio ali. Eu estava com 2 calças, 3 blusas e um casaco grande e morria de frio. Pra se ter uma ideia eu não conseguia preencher o formulário de imigração, a Karen (guia) que preencheu pra mim. Ainda tínhamos que ficar numa fila na imigração naquele frio. A entrada ali tem uma estrutura bem precária. Mas, como diria minha irmã, está tudo bem! Passaporte carimbado e prontas pra aventura.
Você entende o porque do carro 4x4 quando entra na Bolívia. Diferente do Chile que tinha estrada pavimentada, ali era tour raiz. Literalmente no deserto. Um pouco mais a frente descemos pra preencher os papéis de aduana. Agora sim, bem vindas a Bolívia.
Logo de cara paramos no Reserva Natural de Fauna Andina Eduardo Avaroa (nome do herói boliviano na guerra do Pacífico). A entrada custa 150 bolivianos. O banheiro ali custava 500 pesos chilenos (não lembro quanto em boliviano). É isso aí, banheiro por aqui é praticamente tudo pago. Separa o dinheiro aí, pode colocar 5 bolivianos por cada parada.
A primeira parada foi na Laguna Blanca. Essa laguna tem uma alta concentração de minerais que causam a cor branca. O legal hoje é que, como fez muito frio na noite anterior, criou-se uma camada de gelo fina. Com o sol nascendo essa camada começou a “trincar” e o vento empurrava o gelo da superfície para as bordas e os pedaços começavam a subir um sobre o outro como se estivessem saindo da água. Não sei explicar direito o que eu vi mas eu curti! Saindo da laguna blanca vimos alguns flamingos.
Logo ao lado estava a laguna verde. A cor se dá pela alta concentração de minerais mas não me perguntem qual, nunca fui boa em química, rs. Essa laguna nós vimos do alto. Além do céu azul e do Licancabur no fundo, o tom verde da água era lindo. Só não era lindo o vento!
No caminho cruzamos com uma raposinha. No Chile vimos de relance mas aqui ela veio pertinho do carro. Ela até parou bem do nosso lado.
A Cordilheira desce única do norte e quando chega na Bolívia ela se “abre” em suas partes e no Chile ela se une de novo. Pra chegar no nosso “alvo” a gente atravessa a Cordilheira oeste e chega na parte “plana”. Dirigimos literalmente no meio do deserto e muitas vezes sem estrada (e de terra), era passando em cima de pedra, dentro de lago, enfim, doidera. Eu achei muito louco como esses caras se orientam no meio do nada. O nosso motorista nasceu em uma comunidade do deserto e deve conhecer esse lugar na palma da mão.
No caminho uma coisa que me chamou a atenção foram as pedras enormes espalhadas. São pedras piroplásticas fruto de uma explosão de vulcão ocorrida milhares de anos atrás. Elas compõem a paisagem. Uma paisagem fruto dessas explosões vulcânicas foram algumas pedras no meio de algo que parecia uma duna de areia. O dia estava lindo e a imagem parecia uma pintura. A Karen, nossa guia, disse que os turistas apelidaram de Deserto de Dalí pois parecia uma pintura de Salvador Dalí.
Depois de muito saculejos e paisagens maravilhosas chegamos às termas de Polques. Muitos carros parados ali por conta da piscina termal. Gente, não está só frio, está ventando, e muito. A água quente (entre 30 e 35 graus) é por conta da proximidade de vulcões. Dizem ter muitos minerais que fazem bem à saúde. Mas tá muito frio então não, obrigada! Aqui fizemos a pausa para o almoço. Era um lugarzinho simples, comida simples, mas muito agradável.
Eu não lembro se já falei isso mas os carros das agências de turismo que fazem esse tour na Bolívia tem permissão pra carregar combustível por motivos óbvios. Ninguém vai querer ficar parado no meio do deserto sem uma alma viva por perto e sem um posto Ipiranga. Saindo do almoço tinha um carro “abastecendo”.
Eu não lembro se já escrevi sobre o soroche. Agora na hora do almoço Rosana se sentiu mal. Já estava se sentindo mal mas piorou aqui. Claramente a altitude faz muito mal pra ela. Esse mal estar dela é o que chamam de soroche ou mal da montanha. Lá em San Pedro ela já tinha sentido esse mal estar mas aqui como é mais alto atingiu ela pra valer. E é diferente do cansaço pelo ar rarefeito (isso atinge todo mundo). A pessoa pode ter tonteira, enjoo, dor de cabeça, várias coisas que vão além do cansaço físico. E não tem regra, nem sempre é com o mais idoso, nem sempre é com o sedentário, pode ser com qualquer um. Aprendi no Peru a fazer esse processo de aclimatação. Nós fizemos aqui também, descansamos na chegada, tomamos chá de coca, sorochji pill, andamos e respiramos bem devagar, esforço mínimo, mas mesmo assim o mal da montanha pode atingir. Eu imagino a força que ela tá tendo pra aguentar até o fim do dia.
Continuamos o caminho pois estávamos no meio do deserto, não tinha como levar ela pro hotel. Paramos numa região conhecida como Sol da manhã que fica a 4800m de altitude. Sol da manhã já foi um vulcão e hoje é uma extensa cratera vulcânica repleta de gêiseres e fumarolas. Ali podemos ver a lava vulcânica fervendo literalmente. É um lugar perigoso e tem que ir com guia. Caiu ali, meu filho, morreu. É uma coisa muito doida ver o planeta que a gente não vê. O cheiro de enxofre é forte mas suportável.
Fizemos uma parada que pra mim foi especial. O lugar não era um ponto de visitação propriamente dito, era apenas o ponto mais alto do nosso tour: 5000m. Não imaginei chegar nessa altitude sem passar mal. Era meio que um desafio que eu não podia controlar afinal cada corpo reage de uma forma à altitude. Mas fiquei feliz de estar ali.
Estamos nós sozinhos no deserto e de repente aparece uma nuvem de poeira lá longe. Era outro carro indo de um canto ao outro e logo sumiu de novo. Muito louco isso!
Mais uma parada na lagoa colorada. Meu amigo, você não tem ideia do vento que fazia naquele lugar. Eu me desequilibrava fácil. Bom, tá certo que já sou meio desequilibrada, hehe, mas com o vento colaborando ficou difícil. Aqui descemos eu e Gabi. Mamãe ficou no carro com Rosana. A laguna colorada é um lago salgado enorme. Quando a laguna seca um pouco dá pra ver as partes de sal. E essa parte branquinha contrasta com o vermelho da laguna. A água é vermelha devido a uma alga rica em betacaroteno. Quando o sol bate a água fica assim. Ali tem muito flamingo das 3 espécies sendo o que mais tem é o flamingo de James.
Depois de andar e nos distrair com a paisagem tivemos que subir pra chegar na banheiro. Era uma subida que dava pra cansar ao nível do mar, na altitude então... fomos bem devagar e deu certo, sobrevivemos. Uma lição aprendida no deserto foi de nunca perder a oportunidade de ir al banheiro, haha. Lá de cima dava pra ter outra visão do lago. A gente até ia voltar por cima mas não tava dando. O vento não deixou. Sério mesmo, não dava. A Karen que é pequenininha parecia que ia voar. Descemos e voltamos por baixo que ventava também mas dava pra andar. O engraçado é que na ida a gente estava distraída com a paisagem e não percebeu a distância que andamos. Mas na volta.... não chegava nunca. O vento parecia ter congelado minha boca, haha.
Achei muito legal esse lance de andar no meio do deserto. Tinha lugar que aparecia uma estradinha, tinha lugar que eram só as marcas dos pneus na terra, tipo, referência zero. Tinha hora que a gente olhava em volta e só tinha a gente. De repente a gente via uma poeira levantada e aparecia um carro indo pra outro canto. Parece que não tem um caminho x a seguir, sabe? Teve uma hora que ele virou e começou a subir umas pedras e eu fiquei me perguntando como ele sabia que era pra virar ali, rs. Esse cara deve conhecer o deserto na palma da mão.
Passamos então pelo deserto Siloli. Fizemos ali uma última parada na árvore de pedra. As pedras ali pareciam uma escultura. O céu azul compunha a paisagem. Destacada as rochas maiores ficava uma parecida com uma árvore. Foi esculpida pelo vento ao longo dos anos. Uma obra de arte feita pela mãe natureza.
Saímos do parque finalmente. Dia corrido, né? Pra você ver, eu fechei os passeios todos tanto do Atacama quanto da Bolívia e não tinha ideia de como ia ser. Achei que a gente ia chegar aqui e ia direto pro hotel. Aliás eu nem sabia qual era o hotel que a gente ia ficar. Só lá no começo do tour a Karen explicou que seriam dois hotéis. Dirigimos um bom pedaço no meio do deserto até que bem longe dava pra ver uma construção. Gente, a Karen tinha dito que era no deserto mas não sei porque imaginava outra coisa. Na minha cabeça eu via uma estrada e um hotel e mais nada perto. Sabe quando a gente chama um lugar de deserto? Aqui era no sentido literal da palavra.
Chegamos no hotel da rede Tayka. Esse é um hotel ecológico. Eles usam painel solar e por conta disso tinham restrições em relação ao uso de energia. Tomadas, por exemplo, só funcionam das 18h às 22h. Banho quente? Idem. Wifi? Idem. Cheguei a conectar no wifi mas desisti. Era bem ruim. Também não podia esperar nada no meio do deserto. Mas tudo bem, eu estava tão cansada que desencanei. Fomos tomar banho assim que deu 18h porque às 19h era o jantar.
Fui chamar as meninas para jantar e a Rosana disse que estava com muito frio. Peguei o termômetro pra ela e, ainda bem, não era febre. Ela foi pro restaurante mas não se sentia nada bem. A Karen saiu com ela para recepção onde deram um remédio e ela foi deitar. Levaram a sopa pra ela e ela fez uns dez minutos de oxigênio pra ver se melhorava.
A gente jantou uma comidinha leve tipo sopa de entrada e frango de prato principal. Depois fomos direto ver ela. A cara não estava boa. Ela disse que depois de comer voltou tudo. A Karen disse pra ela fazer esforço mínimo. Um pouco depois ela ficou mais um pouco no oxigênio e melhorou.
Eu estava tão cansada que não eram 21h eu deitei. Estava quase dormindo quando bateram na porta do quarto. O cara do hotel trouxe bolsa de água quente pra colocar embaixo da coberta. Levantei, peguei a bolsa, coloquei embaixo da colcha da mamãe e ela nem percebeu, já estava apagada. Coloquei uma bolsa embaixo da minha coberta e me enfiei ali. Era tanta coberta que até pesava. Mas dormi rapidinho por volta das 21h.
Publicado por Akemi Nomura 03:16 Arquivado em Bolívia