Havana - dia 01

Bom dia. Acordei no meio da madrugada com calor. Eu tinha desligado tudo. Liguei só o ventilador. Ar condicionado só em último caso. Todo dia 3/11 é a mesma coisa, dia que eu acordo e durmo pensando no meu pai. Dia que ele estaria completando 86 aninhos. Carrego você comigo pra sempre, pai. Feliz aniversário!

Conversa com uma cubana hoje deu uma real da situação. O país está numa fase difícil, mais difícil do que sempre foi. Um desabastecimento muito grande. Sempre teve mas parece que piorou. Inclusive ela nos alertou pra levar água da casa porque era difícil achar. E o relato foi pesado, triste. Reza a lenda que tem gente que está feliz, satisfeita. Talvez porque não conheçam outra realidade? Não sei! Não tenho gabarito pra me aprofundar nessa discussão. Mas que foi uma conversa interessante foi. Deu pra sentir a mão pesada do estado controlando o que os cidadãos falam pelo receio dela em falar baixo e tomar cuidado com outras pessoas que poderiam ouvir.

Vamos começar o dia pela Praça Central. Passamos aqui ontem. A praça é super charmosa. Tudo muito limpo, os prédios dos hotéis são clássicos. São hotéis caros, eu imagino. Ao redor da praça tem várias opções de carros clássicos para alugar. Além dos hotéis tem o belo prédio do Gran Teatro de Havana. A cereja do bolo é a proximidade com o Capitólio. Daqui saem as duas linhas dos Ônibus de turismo. Uma passando pela cidade e outra que leva pra praia.

Descemos o Paseo del Prado no ônibus e passamos no Malecon. O Malecon é um calçadão a beira mar. É possível ter uma amostra do belo mar que banha a ilha de Fidel. Ali é onde os cubanos dão o rolê. Rola um pouco de tudo nesses calçadões, se é que me entende....

Passamos por um famoso local de Havana: Hotel Nacional. Esse hotel testemunhou diversos fatos históricos. Era aqui que a máfia americana fazia suas festas no período de ditadura de Fulgêncio Batista. Foi aqui, em 1933, que 300 soldados cubanos se refugiaram para fugir de Batista que tinha acabado de dar o golpe. Os soldados acreditavam que teriam a proteção do embaixador americano. Não tiveram! O exército do ditador abriram fogo e mataram cerca de 14 soldados.

Passamos pela Embaixada dos Estados Unidos. Depois de abrir e fechar diversas vezes, desde 2015, depois de acordo com Obama, as bandeiras passaram a tremular na embaixada americana aqui, e na cubana lá.

Havana é uma cidade de muitos contrastes. Alguns trechos afastados de Havana Vieja pareciam cenário de guerra. Em contrapartida, em meio ao caos, surgiam grandes prédios modernos.

Plaza de la Revolution, um dos cartões postais de Cuba, base do governo onde ocorrem diversas manifestações. Aqui João Paulo II rezou uma missa para mais de 1 milhão de pessoas. Foi aqui que Fidel fez um discurso de mais de 8h. Misericórdia! A praça é ecrcada pelos préios dos ministérios. O principal ponto é o painel de Che Guevara. Também tem ali o painel de Camilo Cienfuegos, outro grande revolucionário cubano menos conhecido pra nós. Dizem que Camilo era um cara simples, gente boa, que tinha bos intenção em ajudar o povo. Na praça também tem uma estátua de José Martí, uma das maiores figuras revolucionárias do país. Esse eu confesso que não sei muito não, mas era importante porque tinha uma estátua dele lá na Plaza Central também.

Os carros antigos fazem um passeio pela cidade e param na praça. São lindos! Os preços variam conforme a busca. Se a cidade tiver muito turista pode chegar a 80 euros/dólares. Se a cidade tiver tranquila fica mais fácil negociar.

Passamos pelo Cemitério Colon. O cemitério é Patrimônio da Humanidade. É gigante e tem uma entrada muito bonita. Mas não desci não. Tenho nem ideia de quem pode estar enterrado ali. Diz que tem cerca de 5km. Depois do Père Lachese acho difícil um cemitério ser tão interessante. Diz que o cara que construiu o cemitério está enterrado no topo do portão porque todos que ali fossem enterrados teriam que passar por baixo dele.

Dali seguimos pra um rolê aleatório. Passamos por uns lugares muito estranhos. Tipo, nada a ver com nada, sabe? Foi interessante pra ver a cidade além da Havana Vieja e El Vedado. Falando a verdade, nada de interessante. Passamos na frente da universidade de Havana, muito bonita, por sinal. De resto, nada interessante. Definitivamente é bom ficar na Havana Vieja. Tudo mais fácil….

Na volta descemos na Praça Central pra almoçar no Nardros. Tava muito gostoso. Anotem essa dica: restaurante Los Nardros. Fica em frente ao Capitólio. Tem uns 3 restaurantes lá, mas o Nardros tem comida cubana. De acordo com o senhor da casa ali tem bastante comida por pouco dinheiro. NO centro celho tem pouca comida por bastante dinheiro. Lugar turístico, né? Depois resolvemos voltar pra casa pra descansar, recarregar o celular e encontrar com o senhorio pra trocar dinheiro. O sol estava rachando. Mais tarde ele baixa e fica mais tranquilo andar. Rolou uma ótima soneca da tarde.

Depois que o senhorio chegou, troquei o dinheiro e fomos pra rua. A ideia era pegar o ônibus até a feira de artesanato de San Jose mas não colou. A moça do ônibus fez um bem bolado com outro ônibus, trocamos de ônibus no caminho pra pegar um voltando. Chegamos a tempo na feira mas…. Uma porcaria! Só aquelas quinquilharias feitas na China, sabe? Gostei não. Eu não recomendo perder tempo lá, a não ser que você esteja caminhando naquela região. Senão passe na feirinha da Obispo mesmo. Já falei da Obispo? É a rua principal de Havana Vieja, onde você encontra mercadinhos (que dificilmente vai conseguir entrar), vários restaurantes, arquitetura bacana e bastante turista. Aqui você consegue comprar cartão de internet. Tem duas lojas da ETECSA, eu sugiro que, caso tenha fila, tente a outra. Normalmente a loja mais perto do famoso bar Floridita costuma ser mais vazia.

Eu até pensei em voltar de bicitaxi, mas achei meio caro e resolvi voltar andando. O cara até veio atrás pra tentar baixar o preço mas eu não quis mais. Nem era tão longe. Voltamos andando até o supermercado. Descobrimos que tem fila pra entrar. O número de pessoas é controlado. Outra coisa, pagamento só em cartão de crédito, tá? Esse negócio de que em Cuba é só dinheiro é balela. Enquanto eu espero na fila, eu vou escrevendo o dia de hoje.

Desistimos! Não do supermercado, mas da fila. Gente, tava muita bagunça. Tinha um povo sentado lá que tb estava na fila, mas não estava. Aí quando andava esse povo vinha. Vc achava que era sua vez e não era. Um trem muito doido. E demorava muito. Pensa num trem confuso. Depois ficamos sabendo mais ou menos como funciona os supermercados. Tem supermercado que aceita peso cubano, senão os locais não conseguem comprar. O problema é que não tem insumos. Quando chega um determinado produto, um avisa o outro e forma fila. Às vezes eles ficam esperando pra ver o que vai chegar. Lembrando que algumas coisas são controladas pela livreta. O clássico são os cinco ovos por mês por pessoa. Carne? Só um pouquinho de frango. Eles mesmo fazem piada disso, que usam o frango pra fazer caldos até não ter mais sabor e depois comem. Às vezes eles precisam recorrer aos mercados que chamam de MLC (eu acho), que vendem em dólar. Mas é muito caro pra eles. Só pra ter uma ideia, um engenheiro da ETECSA ganham em torno de 10 mil pesos. Dividindo pelo câmbio oficial dá em torno de 80 dólares/euros. Um pacote de 500gr de pó de café custava 6 dólares/euros. Alguns cubanos tem um pouco mais de dinheiro porque tem parentes que moram fora e conseguem mandar passando por bancos da Europa, por exemplo. Mas mesmo esse mercado mais caro tem uma falta muito grande de produtos. O que eu percebi que em Cuba não adianta você ter o dinheiro, não tem onde comprar.

Voltamos andando desiludidas até a Plaza Vieja e acabamos pegando uma pizza num restaurante. De fome a gente não morria….

Terminamos o primeiro dia de Cuba. O saldo do dia foi um grande aprendizado. A realidade do povo cubano hoje é muito difícil. Havana ainda é mais ou menos. Mas tem regiões que a dificuldade é imensa, falta energia, falta comida, falta remédio… E tem coisa que não adianta ter dinheiro, simplesmente não tem o que comprar. Complicado!